Para um jantar de amigas numa cidade como Lisboa, a escolha é vasta e os estímulos (especialmente nas redes sociais) são muitos. Apesar de algum ceticismo face à qualidade dos restaurantes na moda, fui recentemente ao Rosamar no Príncipe Real.
Pertencente a um grupo de restaurantes - o EPL Nova -este restaurante tem uma ementa baseada no peixe e na comida do mar. Para além do tipo de comida, o restaurante também incluía um conceito internacional: no menu, na forma de estruturar os diferentes produtos, na disposição, na clientela e no tratamento. Não parecia que estávamos em Portugal, tendo inclusivamente sido servidas, em parte (e em geral de forma razoável, sem ser extraordinário), por uma pessoa com quem nos tivemos de expressar em inglês. Felizmente a parte que mais importava encontrava-se em Portugal. Com uma carta de vinhos suficiente, escolhemos uma garrafa de vinho alentejano do Dirk Niepoort, chamado Vida Plena, e de facto com aquele vinho a vida é plena (o dia seguinte é que se calhar já não).
Para o jantar decidimos pedir uns pratos para dividir. Experimentámos uns tacos de camarão, um carpaccio de lagostins, um salteado com lulas e a tostada de polvo grelhado. Em geral o produto era bom, o prato bem apresentado, com vibe (tal como o restaurante) de estar na moda e de ser perfeito para uma fotografia nas redes sociais. Os tacos estavam demasiado picantes para a minha sensibilidade, as quantidades não eram de todo abusivas (se calhar até podiam ter sido um pouco mais generosos) e o carpaccio deixou a desejar. Por outro lado, as “tostadas” estavam deliciosas, requerendo um duplo pedido para forrar o estômago. E por falar em forrar o estômago, acompanhámos um café com duas sobremesas, os churros e uma tartelette com mousse de chocolate. O toque doce foi também um upgrade do básico, valorizando os produtos base e com ótima apresentação. Vale sempre a pena terminar em doce.
Em última análise achei o restaurante caro, embora esta avaliação fosse previsível. Não achei o restaurante espectacular, num país em que o peixe é um produto tão bom e em que os restaurantes internacionais se multiplicam. Pareceu mais do mesmo, embora um jantar de amigas seja sempre único, seja onde for.
Há coisas que se deve fazer pelo menos uma vez na vida. Há coisas que se está sempre a pensar em repetir. Há sítios que se tornam uma tradição. Este texto é sobre o Manjar do Marquês em Pombal e se não sabes do que estou a falar não percas esta paragem na próxima viagem da A1 (ou em qualquer outra viagem Norte-Sul).
O conceito é simples, como se fosse uma estação de serviço, mas “em bom”. Depois de subidas as escadas, encontramos à esquerda a fila de pessoas para sentar, à direita uma disposição de iguarias regionais e pequenas lembranças. Passada a fila, que com sorte é curta, somos sentados numa sala com inúmeras mesas para todo o tipo de grupos, cheias de todo o tipo de pessoas, na sua maioria famílias. Na mesa encontramos um menu, curto, mas operacional: o preço do arroz de tomate por pessoa, os acompanhamentos possíveis (e já conhecidos), e pouco mais. A escolha, que já estava facilitada, torna-se imediata: uma bebida (têm uma curta, mas interessante escolha de vinhos, especialmente no que diz respeito à qualidade-preço), dois acompanhamentos (tendo a variar entre os filetes de pescada e os croquetes) e arroz.
Deixei para o fim a referência ao arroz de propósito. Não é bem só arroz, é arroz de tomate, caldoso, apurado com um toque do refogado e dos pimentos. Arroz de tomate bem feito, tão simples, mas tão bom. Continuo a achar, sempre que lá vou, que um dia apanharei uma má dose e ficarei com o coração partido. Para já felizmente isso não aconteceu. Que delícia de repasto, acho que seria capaz de comer só o arroz, sem acompanhamentos, especialmente quando, como me aconteceu da última vez que lá fui, os croquetes não estavam tão “recém-feitos” como eu gostaria.
Se com a qualidade do produto uma pessoa fica delicada, a rapidez do serviço arrebata. Exatamente como desejado consegue-se fazer uma pausa gastronómica, mas eficiente, mesmo a tempo de retomar a viagem (e de querer voltar, uma e outra vez).
Sabem aqueles sítios onde vamos regularmente, olhamos para a carta e dizemos sempre que temos de experimentar algo novo, mas quando lá chegamos sabemos que vamos repetir o prato de sempre?
Isso é para mim o Memória, em Campo de Ourique (aplicável aos restaurantes do Grupo Pasta non Basta). No meu caso o pedido é sempre uma variação do mesmo. Consiste em Spaghettoni al Tartufo, limonada (ou vinho da casa) e tiramisu, nada mais nada menos (às vezes com um acrescento de foccaccia de antipasti).
Foco no principal, o spaghettoni. É caso para dizer que "está tudo certo", o molho da massa é líquido mas não demasiado denso, tem ovo escalfado, os cogumelos e o toque da trufa com uma massa cozinhada (como deve ser) al dente. Se há algo pouco positivo que posso dizer sobre isto é que nunca consigo terminar o prato, por muito que me custe, e que este me deixa sempre totalmente cheia, mas que nunca me impede de repetir o pedido. Fazendo jus à tradição, para além de dividir o spaghettoni, partilhei também a pizza diavola, que provei pela primeira vez e que, apesar do picante (mas que aqui era na medida suficiente), me deliciou completamente. Para acompanhar desta vez pedi um copo de vinho da casa, tinto, leve e a perfeita combinação.
Sobre o restaurante em si, reitero o que escrevi no início. É o habitual, é do costume. Para além de ser sucessivamente repetido, quer no restaurante, que em em modo take-away, é também um clássico para levar amigos/família de visita a Lisboa. É prático, a reserva é fácil, é bonito, bem decorado, tem um pátio apetitoso - especialmente no verão. É tudo o que se quer e, pedindo desculpa pela piada fácil, fica na memória.
Saímos ao final do dia de Lisboa com destino a Sevilha e precisávamos de um sítio para jantar e para fazer uma pausa. Sem hesitar escolhemos o Alentejo e imediatamente abrimos o Boa Cama Boa Mesa.
A meio caminho ficava o distrito de Beja e então parámos em Serpa, para jantar no Molhó Bico. Chegámos por volta das 21h30 e conseguimos estacionar mesmo no centro da vila. Um pequeno passeio a pé numa cidade pitoresca e tranquila. Apesar do receio, o restaurante tinha lugar para dois “turistas” (sem reserva) e o restaurante convidava à refeição. Telhas de barro na entrada, decoração tradicional em estantes espalhadas pelas paredes e o toque vinícola já característico comprovaram a escolha.
Numa escolha pouco habitual, fruto dos quilômetros de viagem que nos faltavam fazer, para beber pedimos dois refrigerantes. Já mais costumeiro foi a rapidez com que atacámos o prato de pão, queijo e azeitonas (se este não for o couvert, a vida não vale a pena).
A fome era muita, mas a indecisão parecia maior. Perante um dilema, a escolha foi básica: secretos de porco preto, com batata frita, arroz e salada. A primeira dentada é um misto de emoções: a delícia do manjar e a tristeza de não viver no Alentejo. Porco preto devia estar no menu de minha casa semanalmente, especialmente como me foi servido: simples, com textura e de sabor único (sem floreados) e acompanhamentos que reforçam apenas o seu protagonismo. O básico bem feito. A minha companhia pediu migas com carne de porco preto frita. Por não ser especial fã de migas (sim, sei que se calhar não devia admitir isto em voz alta), provei apenas a carne, que me pareceu demasiado gordurenta, para a leveza que eu procurava, especialmente para um jantar a meio de uma viagem de carro.
Com a conta veio a confirmação que a inclusão no guia gastronómico do Expresso eleva o valor da refeição. O preço pareceu-me quiçá um pouco elevado para o local, especialmente não tendo consumido vinho nem sobremesas, mas a quantidade era mais que suficiente e a qualidade da carne superou todas as expectativas. Poderei voltar, se calhar na próxima vez, para também provar vinho da região. Afinal de contas o Alentejo vale sempre a pena.
Mesmo antes de sair de Sevilha fomos almoçar à Antigua Abaceria de San Lorenzo, uma recomendação de expats que tinham vivido nesta cidade.
A localização era curiosa, no centro da cidade, mas fora do roteiro turístico habitual. Fomos os primeiros a chegar, dada a estopada rodoviária que nos esperava naquela tarde, e fomos sentados perto da cozinha, que estava ainda em preparação do horário de refeição. À nossa volta a decoração era excêntrica, sem ser em demasia, com muitos estilos e detalhes pertencentes a épocas muito diferentes. No momento em que nos entregaram o menu eu não sabia o que pensar, mas tendo em conta o valor da recomendação e a máxima pessoal que implica que um restaurante só me impressiona/desilude verdadeiramente com o que me apresenta no prato e no copo, foi nessa escolha que me foquei.
A decisão era difícil e a oferta vasta, também fruto do menu específico (alusivo à feria) que terminava naquele dia. Para beber escolhi um vinho tinto da região, muito bem recomendado pela pessoa que nos atendeu (de uma simpatia extraordinária, ela e todos os funcionários/trabalhadores daquele estabelecimento por sinal).
Correspondendo ao ecletismo do restaurante inovámos. Uma saladinha de tomate com cavala e uma tosta de lombo gratinado com queijo e orégãos para abrir o apetite. Apetite aberto, a refeição entrou na fase mais intensa (e tensa) Os dois pratos que se seguiram estavam tão bons que conduziram a uma discussão à mesa sobre qual seria o melhor. Do meu lado defendi, com unhas e dentes, os “huevos de rámon” (uma espécie de ovos rotos meets pulpo a la gallega, já que além do ovo estrelado encontramos batatas cozinhas e um tempo com azeite e pimentão doce, mistura curiosa que funciona na perfeição). A outra “equipa” babou-se com o caneloni de carne de touro (específico na altura da feria), pelo sabor e textura diferente da carne e pela confecção no ponto da massa e do bechamel e queijo que as acompanhavam.
No final da refeição, já com casa cheia, entre famílias e grupos de amigos - um ambiente que convidava a almoço de amigos em dia de trabalho - o raciocínio manteve-se, a recomendação não desiludiu, e o restaurante impressionou com o que trouxe no copo e nos pratos.
Numa das noites da viagem a Sevilha, alterando os planos à última hora, decidimos fazer um rally tapeiro (ou imaginar um sábado à noite se fossemos sevilhanos). A ideia era simples: escolher 7 ou 8 sítios, ordená-los com base na distância, e comer uma tapa em cada um. Apesar da intensa pesquisa, a realidade foi um pouco diferente, fruto da multidão que encontrávamos em alguns restaurantes e o cansaço acumulado. Assim, visitámos 3 sítios e em cada um comemos 2 tapas.
Primeiro fomos à Taberna Coloniales. A fila era enorme, mas tivemos sorte e arranjámos logo um pequeno espaço ao balcão (uma noite ambulante de tapas exige pedir ao balcão). O ambiente era de uma correria, entre sentar grupos de amigos nas mesas e gritar pedidos para a cozinha, o chefe de sala serviu-nos salmorejo (uma sopa fria andaluza de tomate , alho, migas de pão), cremosa, suave e saborosa correspondendo ao meu desejo (de fã absoluta das sopas frias espanholas), e tostas de ovo de codorniz com presunto, que escolhemos sem hesitar pelo ovo de codorniz que nos pareceu exótico (apesar de ser bastante comum nos restaurantes da cidade). Funcionou bem como uma espécie de tosta clássica de ovos rotos, com o toque distinto da codorniz.
A seguir fomos para a zona da praça de touros e entrámos (inicialmente só para ir à casa de banho, tal era a quantidade de gente) no Bodeguita Antonio Romero Origen. Além da fama, o restaurante gozava também do proveito de ser, claramente, um sítio de paragem quando terminada a corrida de touros na Maestranza. Inicialmente pensámos desistir, mas depois não resistimos ao barulho (sim claro, espanhóis) e ao ambiente. Conseguimos uma pequena mesa (já que o restaurante não serve se o cliente não tiver lugar à mesa ou ao balcão) e pedimos imediata e rapidamente (para “ganhar” a pequena guerra territorial entre nós e outro pequeno grupo por uma mesa). A escolha foi simples: um prato de presunto, uma tábua de queijo, uma cerveja e um copo de vinho branco. Produtos bons, serviço simpático, restaurante clássico. Às vezes, o básico enche as medidas sem precisar de impressionar.
Para terminar a noite, já cansados, mas ainda com alguma gula, fomos ao Lobo López, restaurante da moda de Sevilha pelo qual já tínhamos passado, sem entrar. Chegámos tarde e sentámo-nos ao balcão, apesar de nos ter sido oferecida uma mesa (o conceito é o conceito). Sem querer o pedido foi temático. Pedimos uma espécie de salada russa de frango com molho de caril de manga e asas de frango salteadas no wok com pimenta rocoto. Sendo particularmente sensível ao picante, fiquei-me pela salada. Fresca, suave, rica em sabor e com o toque do caril fez-me quase querer recriar a receita em casa (pensamento que me ocorre de vez em quando e que na maioria das vezes é completamente inconsequente). Dizem-me que as asas de frango estavam também bastante saborosas e surpreenderam, especialmente pelo tempero e apresentação muito diferente do habitual. Pela qualidade da comida que provei, o ambiente, a decoração e a leitura do menu fiquei com vontade de querer voltar a este sítio, sem ser em percurso ambulante.
O rally ficou feito, e bem feito. Os espanhóis sabem aproveitar um domingo à noite (ou qualquer outro dia na realidade).
Em preparação da viagem a Sevilha, como sou foodie, e meia OCD com planeamento de viagens (embora desta vez tenha estado apenas a desfrutar, sem controlo no roteiro), pedi a várias pessoas recomendações de restaurantes (rodeio-me sempre de pessoas que tenham uma lista de restaurantes on deck). Foi nessas listas, e nalgumas pesquisas no Dr. Google, que baseámos as nossas escolhas gastronómicas da viagem (neste e nos próximos posts destacarei algumas delas).
O mais consensual pelas várias listas e revistas era o Perro Viejo. Jantamos num sábado, com reserva para as 22h (cumprindo a máxima "em Roma sê romano"). Entrando no restaurante e percorrendo as salas salta logo à vista a quantidade de turistas, o que dececionou um pouco as minhas expectativas, com base no desejo de tentar sempre visitar as pérolas escondidas de uma cidade. Felizmente a deceção acabou ali.
Mal nos sentámos pedimos logo um tinto de verano/caña (frescas como a noite andaluza e a caminhada de 45 min pedia), um prato de pão e de azeitonas, a combinação perfeita para começar a escolher as tapas. Apercebendo-nos que não poderíamos experimentar os arrozes (por razões de tamanho fazem apenas para grupos de 4 ou mais pessoas), ficamo-nos (e focámo-nos) pelas tapas. Depois de várias indecisões acabou por vir para a mesa, entre outros, a salada russa de camarões, o mini hambúrguer de bovino com brie, alioli e cebola caramelizada, uma versão de batatas bravas e as croquetas de presunto ibérico. Todas as tapas estavam deliciosas e o conceito moderno arrebatou as expectativas, uma cozinha sem descurar os bons produtos e a confeção tradicional, que apostava intensivamente em misturas de sabores e texturas pouco comuns. Destaco aqui as croquetas, cuja excelência levaram a repetir o pedido a meio da refeição. Estas eram estaladiças por fora, no limite do crocante, mas muito longe do queimado, e suaves por dentro, com o sabor leve do bechamel na consistência perfeita e a qualidade do presunto.
Com a dolorosa veio também uma grande alegria, já que a qualidade-preço acompanhou a maravilha da refeição, e o preço final foi bem inferior ao esperado. Há restaurantes consensuais por algo.
Aproveitando um fim-de-semana um bocadinho mais comprido (com um feriado), decidi regressar a Sevilha. Acompanhada por um novato e com alguma inveja de ir com uma pessoa que vê a capital andaluza pela primeira vez, entrámos no carro depois de uma semana de trabalho, rumo ao sul do país vizinho.
De carro foram quase 900 km, ida e volta, a maior parte em estradas nacionais, passando pelo nosso muito belo Alentejo. Como não gostamos de fazer o mesmo trajeto duas vezes, fomos pelo baixo Alentejo e regressámos pela zona de Badajoz e Elvas, que valeu a pena a paragem e deixou vontade de regressar em passeio semelhante. Episódica foi a entrada em território espanhol, de madrugada quase, que nos recebeu com uma galp (deixando-me a pensar, já que os portugueses costumam ir a Espanha abastecer pelo menos que a empresa portuguesa lucre com isso) e com uma (anormal) falta de seleção radiofónica, que nos obrigou a escolher entre uma entrevista sobre a saúde mental no espaço laboral ou a rádio fiesta. Acabámos por estar 2h a ouvir uma espécie de música festiva, curiosamente muito parecida (ou era sempre a mesma faixa?).
Chegados a Sevilha e depois de uma noite bem descansada e um pequeno-almoço reforçado num hotel nos subúrbios de Sevilha, começamos oficialmente o nosso passeio.
O conceito da viagem era simples: andar, andar e andar, e foi isso que fizemos. Num total de quase 50km de caminhada, que incluiu o passeio do hotel nos subúrbios ao centro da cidade, pudemos testemunhar o dia-a-dia de uma cidade com alma (há quem diga que tem uma cor especial). Não só exclusivamente dentro do centro, mas especialmente na zona histórica, encontrávamos constantemente grupos de pessoas, de amigos, de famílias, excursões e (especialmente) despedidas de solteira (parece que é moda). O ambiente era de uma festa a céu aberto, especialmente naquela altura do ano.
Digo naquela altura do ano por causa da “feria” (até este momento duvido se este parágrafo não deveria ser um post autónomo). Se não sabem o que é a feria ou, tal como eu há umas semanas, acham que é uma coisa um pouco datada e até demasiado espalhafatosa, não sabem o que estão a perder. Este “evento” é basicamente a festa da cidade (tal como em Portugal qualquer vila tem a respetiva festa), mas em Sevilha uma festa de cidade torna-se num verdadeiro espectáculo. Tudo é espectacular: a deslocação (que dita a tradição deve ser feita de charrete com os cavalos “vestidos” a rigor), as vestimentas (uma mulher vestida de sevilhana, e arranjada como dios manda, é do outro mundo), as casetas (se fossemos injustos diriamos que eram uma espécie de barracas, onde as pessoas dançam, cantam, bebem e comem), e até a entrada, um portão enorme feito para a ocasião. Um parque de estacionamento torna-se num mundo à parte. Fomos 1h a Los Remedios para ter um cheirinho do que seria esta tradição, obrigados por todos aqueles que já por lá tinham passado. Chegado ao recinto apercebemo-nos que apesar de nós acharmos que era um plano turístico, certamente para os sevilhanos não o é, já que a extensa maioria das casetas são privadas e com entrada sujeita a convite - o que envolve tudo de um certo secretismo. Procurámos uma lista das casetas públicas - que inclui a do Ayuntamiento (Câmara Municipal), dos partidos políticos e sindicatos - entrámos numa e fizemos tudo aquilo a que tínhamos direito, incluindo dançar (pessimamente) e beber um jarro de rebujito (uma espécie de vinho branco com sprite, mas que resulta e que poderá ter ajudado a desinibir no bailado).
Para além da festa e da feria, Sevilha por si só vale, vale sempre. As ruas estreitas, os bares e restaurantes históricos (virá texto única e exclusivamente sobre a parte gastronómica, logicamente), a praça de Espanha, os palacetes, os casarões e as igrejas, sem nunca esquecer o (até há pouco tempo) ponto mais alto da cidade, a Giralda. Nesta cidade há uma mistura constante, no geral e nos pormenores, entre um catolicismo de raiz e uns rasgos de influência muçulmana, que é visível nos jardins das casas, na cerâmica e nos azulejos e, especialmente, quando subimos a um terraço e vemos a cidade desde cima (recomendação para o efeito: Hotel de Inglaterra). Em termos de visita, de uma forma minimalista, recomendo quatro atrações: a Catedral (que inclui subir a Giralda), a Palácio Las Dueñas,(propriedade dos Duques de Alba), os Reais Alcázares de Sevilha (seja-se ou não fã de Guerra dos Tronos) e a Casa de Pilatos (maior palácio privado em Sevilha). Estes quatro são de cortar a respiração (também induzida pela quantidade de turistas num mesmo espaço) e valem mesmo muito a pena. Mas, para além dos guias turísticos e de quaisquer recomendações, o melhor da cidade é andar e perder-se, especialmente se for em Triana, entrar nos mercados, parar nos jardins e caminhar sem rumo.
Saímos de Sevilha cansados, mas rejuvenescidos, felizes e já com saudades desta cidade. Tentei resistir à tentação, mas não consegui, tenho de terminar o texto com uma frase da música dos Los del Río, por muito mais piroso que me pareça.
Sevilla enamora al mundo, Por su manera de ser, Por su calor, por sus ferias, Sevilla tuvo que ser.
Encontrei, em Lisboa, um sítio no qual quero ser “da casa”, hoje venho falar-vos um pouco dele. Chama-se a Tasquinha do Lagarto fica em Campolide e para quem não o conhece (o que espero que seja raro) é o epicentro do fanatismo (e corporativismo) leonino.
O restaurante aparenta ser uma casa portuguesa (com certeza) de comida tradicional, embora com um considerável número de camisolas verdes e brancas, troféus e chuteiras. O serviço é extraordinário, simpático, atencioso e com graça, mas sem ser demasiado intrusivo. Ao observar as salas apercebemo-nos do ecletismo dos clientes que se juntam: em casal, em família ou em modo (às vezes estrondoso) jantar de amigos. Esta animação não é, felizmente, demasiado intensa, reduzida por um isolamento e adereços nas paredes também pensados para abafar o excesso de ruído.
Centrando-me na refeição, para entrada apresentam-nos um pequeno tabuleiro para escolha com uma cesta de pão, um prato de enchidos, um de queijos e outro de rissóis e chamuças, com o qual nos deliciámos (e deliciamos sempre, o que porventura diz mais sobre a comensal do que do prato, mas que em nada diminui a qualidade dos mesmos neste estabelecimento). De prato principal um bitoque, obviamente. Tenho uma pequena máxima pessoal, no prato bife, no vinho tinto (neste caso um Duorum tinto, em que conhecida a qualidade surpreendeu o preço - muito perto do preço de mercado). Carne de excecional qualidade, arroz branco solto, batatas fritas crocantes e um ovo estrelado no ponto: o que se pode desejar mais ?
No fim, com o descafeinado veio a conta, com uma excelente relação qualidade preço (especialmente tendo em conta o tamanho das doses servidas - que parte, nesta refeição, reverteram a favor da refeição seguinte - via take-away). Uma pequena pérola na qual farei questão de me tornar cliente frequente.
Nada me faz mais feliz do que experimentar um restaurante que tenha na bucketlist (e olhem que constam alguns nessa lista). Mais feliz fico quando me dizem que um desses tem a “melhor pizza de Lisboa”. A felicidade supera-se com a comprovação dessa frase.
Comi de facto, e até ver, a melhor pizza de Lisboa (ao estilo napolitano como adoro) e esta encontra-se no Forno D’Oro na zona das Amoreiras. Do mesmo chef que o restaurante "Come Prima" e também de comida italiana (juro que este blog não se tornará de nicho), a experiência gastronómica subiu mesmo de nível. A diversidade de pizzas é enorme, tendo inclusivamente uma secção de espírito lusitano. Dividi com o meu constante colega de mesa, comme d’habitude, duas pizzas, ambas extremamente italianas (fugindo à originalidade da carta): uma com trufa negra e mortadela e outra com ricotta, salame e cogumelos. A destacar a textura crocante e densidade, sem ser em demasia, da massa, a qualidade dos ingredientes e a delicadeza das combinações.
A sobremesa, tiramisu obviamente, e as pequenas cortesias do serviço no fim da refeição repetiram-se aos do jantar no Come Prima, e em tudo superaram a experiência anterior, com o devido destaque para a pizza. Vale sempre a pena repetir, especialmente se se mantiver pelo melhor.
Esta é a história de um regresso a um restaurante depois de este, infelizmente, ter fechado na hora do almoço. Depois de ouvir repetidas vezes que este era um dos restaurantes mais românticos para jantar em Lisboa, e conhecendo a qualidade da comida, quis ir experimentar em modo date. Admito ter ficado um pouco desiludida quando a ementa nada tinha mudado, em comparação com a altura que visitava o restaurante regularmente a meio do dia de trabalho.
No entanto, uma das coisas que não tinha mudado, e que valoriza acentuadamente o estabelecimento, são os pequenos gestos da cozinha/gerência e dos respectivos empregados, de uma simpatia e classe extraordinária. Chegados à mesa somos recebidos com bruschettas com tomate e pão caseiro com molho de azeite e vinagre balsâmico - o chamado couvert/entrada dos deuses. Depois chega o vinho, italiano, tinto, suave, adequado o Santa Cristina Antinori e fica tudo bem regado.
De pratos principais, como já é habitual, pedimos dois pratos, uma pizza, uma massa para partilhar. E aí retorna a magia dos pequenos gestos, tendo sido espaçada a chegada dos dois pratos, primeiro a massa e depois o calzone, e dividido o seu conteúdo em dois pratos, para que a partilha fosse menos animalesca. De massa pedimos o tagliatelle fungi e marisco, uma combinação pouco comum de molho de tomate, cogumelos e marisco mas que funcionava com esplendor, em conjunto com uma massa fresca - al dente e deliciosa. No Calzone encontramos uma harmonia extraordinária entre o crocante da massa e a fluidez do recheio que se derretia na boca, e em que se destaca o requeijão e o salame (que terá sido demasiado picante para mim). De sobremesa uma das estrelas da noite, e a favorita desta que vos escreve, um dos melhores tiramisu de Lisboa (se não o melhor).
Depois dos cafés, mas antes da conta, e para terminar em beleza, mais um pequeno gesto, a oferta de um pequeno chupito de limoncello, para aconchegar o estômago.
Apesar das expectativas encontrei exatamente aquilo de que me lembrava, num sítio quiçá demasiado barulhento para o ambiente que convida. Independentemente disso, aquilo que me lembrava era, por si só, extraordinário. Esta é a história de quando regressei ao Come Prima, ao jantar, e fui feliz.
Num fim-de-semana de verão desejei ir comer peixe e marisco na praia. O desejo era ainda mais específico: não era numa praia qualquer, mas sim na Comporta. A pesquisa começou no dia anterior, abri dezenas de websites, li inúmeras críticas e fiz uma série de chamadas. O sucesso não foi imediato.
No final o local escolhido foi o restaurante D.Diniz (anteriormente Restaurante dos Pescadores, um daqueles sítios que já foi alvo algumas vezes de mudança de gerência, o que deixa algum receio por saber se as críticas ou feedback lido se manterão na nova personificação). Na chegada a imagem é mesmo aquilo que se quer, restaurante moderno, em tons branco e nude com o toque do azul marítimo, e casual, uma sala cheia, com famílias, amigos em traje de banho, interrompendo o dia de praia para almoçar no mesmo local.
Fomos petiscando o pão com manteiga de algas (ultra recomendado) e paté de atum enquanto decidíamos o que comer. No final pedimos para partilhar amêijoas à bulhão pato (cujo molho me pareceu demasiado líquido e algo insípido), salada de polvo (muito bem temperada, bem servida e saborosa). De prato principal (embora constasse como entrada) pedimos choco frito, que surpreendeu, apesar do aspeto mais oleoso, um choco com boa textura e ótimo sabor, especialmente com o toque do limão, e com uma camada crocante. Na segunda ronda de choco pedimos a acompanhar batata frita, cortada no formato de meia lua, que tornou do petisco um prato. Se a comida estava boa, o atendimento e a bebida deixaram muito a desejar. Pedimos uma sangria branca que não tinha qualquer graça. O pior foi mesmo o café, facto que muito me entristece, especialmente em Portugal (uma pequena nota para indicar que sou - demasiado - fã de café).
Em suma o restaurante é médio, melhora pelo ambiente e pela comida, mas sem ser extraordinário, especialmente em termos de preço. Afinal de contas, comer na praia e na comporta saíra sempre caro.
Provavelmente o restaurante mais recomendado de Estremoz tinha de ser visitado: Gadanha - mercearia e restaurante (que segundo o que li tem também hotel).
Fomos em grupo em modo petiscos e com muita vontade de continuar a saga de beber vinhos alentejanos. Nesta senda, desta vez não fomos muito longe tendo experimentado o “Vinhas velhas” do Tiago Cabaço (a 1,5 km do restaurante, mesmo na entrada para a vila). Encorpado e denso, tal como manda a região, mas sem aquele caráter áspero ou de digestão difícil, ficamos bem surpreendidos com a escolha, que à medida que ia refrescando (eu sou daquelas pessoas que pede manga para vinhos tintos) tornava os cada trago ainda mais saboroso (e apetecível).
Para comer vários foram os petiscos pedidos (incluindo nomeadamente um prato principal como petisco - um delicioso e cremoso arroz de pato), para além do habitual couvert - cesto de pão da terra, acompanhado por azeite, manteiga e azeitonas. Apesar da qualidade do queijo de cabra no forno, da “revolta das batatas” (batata frita, com ovo e toucinho - eu não disse que era doida por ovos rotos?) e das gambas panadas, eu destaco os peixinhos da horta, com legumes saborosos, cozedura crocante (em modo tempura) e acompanhados por um molho estilo maionese com cebolinho que dava uma enorme harmonia ao prato. Tenho de me referir em frase autónoma aos croquetes, super recomendados, de borrego com maionese de alho caseira, cujo recheio era mais cremoso e suave, sem descurar no sabor do borrego (carne alentejana é mesmo feita de outra classe).
Em suma, quando o produto é de qualidade, um jantar de petiscos torna-se um grande manjar e no Gadanha não se vai ao engano, uma mercearia onde jantamos como reis.
Um bom fim-de-semana em modo escapadinha resume-se, na minha opinião, mas não exclusivamente, aos restaurantes visitados (o que mostra em muito o quão orgânica escrever este blogue é para mim).
Num fim-de-semana no Alentejo é preciso começar em bom, em Estremoz escolhemos o Alecrim. Sentámo-nos na esplanada, aproveitando a onda de calor que se vivia em Portugal com um ótimo ambiente (e casual), e pedimos logo a bebida. Depois de analisar uma bastante apetrechada (e longa) carta de vinhos, escolhemos o Herdade dos Grous Branco (no Alentejo escolhe-se sempre alentejano). Em revista foi provavelmente um dos vinhos que mais me surpreendeu pela densidade e ligeireza ao mesmo tempo, a acidez mesmo no ponto e um sabor amadeirado delicioso.
Para comer, e depois de uma viagem de carro de 3h e para desanuviar da semana de trabalho (e entrar no mood de descanso) pedi uns ovos rotos (sim, sou daquelas pessoas que pede entradas como prato principal e não aceito julgamentos sobre isso). Ovos rotos é daqueles pratos que tem tudo para me fazer feliz, uma cama de batata pála-pála, ovos estrelados com a gema líquida no ponto, bacon e presunto. Fiquei feliz, mas não me impressionou de forma estrondosa admito. O resto da mesa pediu arroz de polvo e prego no prato, que correspondeu às expectativas e alimentou que nem maravilhas.
Ao pedir a conta refleti: quando o que mais arrebata é o vinho e o resto fica em segundo plano, será o vinho muito muito bom ou o resto da comida só normal ?
Há poucas coisas das quais eu goste mais do que me meter no carro, ir passear, e escolher um sítio para almoçar com base no “Boa Cama Boa Mesa” (fã quase incondicional desta “bíblia”).
Recomendada a dar uma volta pela serra de Monchique, acabei por ir (com o meu habitual companheiro de mesa) almoçar ao Luar da Fóia, depois de visitado o miradouro, o centro de artesanato e observada a paisagem do ponto mais alto do Algarve (conhecido também pela sua ligação ao ciclismo). Tendo chegado a uma hora mais tardia, pudemos sentar-nos sem reserva e numa das mesas mais desejadas, no exterior (mas à sombra) e na varanda, quase suspensa, com uma vista extraordinária sobre o Algarve até à costa e das montanhas que nos rodeavam. A fome era alguma, e felizmente o serviço correspondeu à rapidez desejada.
O pedido (tal como a escolha do restaurante) foi guiada pela bíblia já referida. Foi nos imediatamente servido pão e queijo regional e presunto que nos agradou fortemente, pela qualidade dos produtos (demonstrando, uma vez mais, que o local é bom). De entrada pedimos os ovos de codorniz com chouriça de Monchique, uma combinação pouco usual, uma novidade de escolha (motivada por dois foodies muito curiosos) e, felizmente, uma boa surpresa, especialmente quando combinada com pão. O prato principal chegou-nos da primeira sala à entrada do restaurante, composta apenas por grelhas e muito fumo. Comemos a picanha de borrego com batata pála-pála caseira, salada de agrião com laranja. Do prato destaco, pela positiva, a salada que me mostrou uma combinação que repetirei e, pela negativa, a carne, cujo corte e cozedura não apaixonava, apesar da textura crocante estar no ponto.
Paga a conta e de volta ao passeio, ficou a sensação que, apesar de haver alguma desilusão face às expectativas criadas na entrada do restaurante, desfrutámos de uma refeição tradicional com um twist, sem descurar nos produtos locais.
Se eu vos disser que comi uma das melhores pizzas de sempre no meio do Algarve sei que parece meio improvável, mas prometo-vos que é verdade.
Fomos ao Arte Bianca em Sagres. O slogan é “onde a farinha se torna arte” e esse é o destaque do restaurante, a massa da pizza.
A carta está essencialmente composta por pizzas, subdivididas em três tipos: as clássicas, as gourmet de fermentação natural e as gourmet romanas. Éramos 5, cada um pediu uma pizza diferente, todos devorámos os pratos, fizemos questão de experimentar todas as variedades na mesa e discutimos efusivamente qual seria a melhor. Eu escolhi, dentro das gourmet de fermentação natural, a pizza burrata, com mozzarella, burrata, e presunto. A firmeza da massa, crocante e saborosa, com o travo intenso e salgado do presunto e a cremesura suave dos queijos fez-me saber que escolhi a melhor, sem sombra de dúvidas.
Para beber escolhemos um tinto suave, mas delicioso, o VINUVA NERO D’AVOLA DOC (italiano, por supuesto).
Se estás a ler este artigo prepara-te para pegar no carro e rumar ao Minho, mais propriamente a Ponte de Lima, ao restaurante “A Carvalheira” que eu passo a apelidar de “Estrela do Minho”.
Uma casa antiga, de pedra, com um ar familiar (em bom), um relvado verde enorme rodeado de flores e árvores, realçado pelo céu cinzento (típico obviamente). Marcámos um almoço tardio (às 14h30) o que em muito beneficiou a experiência, permitindo-nos desfrutar de uma sala de jantar mais tranquila, de maior tranquilidade (apesar dos espanhóis presentes na sala), sem sofrer de um descurar no serviço (que por vezes sucede, à medida que se aproxima a hora de fecho do estabelecimento). Já beneficiada, a experiência ultrapassou todos os limites da excelência, à medida que se sucediam as dentadas.
Antes das dentadas, a bebida. Numa recomendação minha, algo inédito neste ambiente, dei a provar o Quinta de La Rosa tinto, que tanto gosto e que (felizmente) superou as expectativas da companhia à refeição. Voltando ao garfo, de entrada, para além do habitual couvert, comemos uns deliciosos cogumelos frescos e pataniscas de bacalhau. De prato principal pedi um extraordinário arroz de pato (novamente, algo familiar e tradicional, mas em bom), apesar da tentação de um arroz de sarrabulho no lugar do lado. Para sobremesa, voltando aos 13 anos, pedi baba de camelo, que me soube tão bem, senão melhor daquilo que a memória me trazia.
Em suma, que maravilha de sítio, que delícia de refeição. Novo item da minha lista de restaurantes preferidos.
Projeto pessoal muito desejado, este será um espaço onde partilharei pequenos textos, de descrição e avaliação de sítios que visito, especialmente do ponto de vista gastronómico, de uma foodie completamente não especialista.
No princípio era um prato....
------
P.S.: Os locais serão adicionados no mapa disponível na rodapé da página inicial à medida que visitados.
P.S.1: a escrita é recreativa. As avaliações são pessoais.
P.S. 2: todas e quaisquer sugestões são aceites e, acima de tudo, recomendadas.