de tudo um "porco", diz o website deste restaurante
Aproveitando uma daquelas noites de verão em que só apetece estar ao ar livre, fui no outro dia jantar, em Campo de Ourique, ao Pigmeu. Trata-se de um estaurante pequenino numa daqueles clássicos quarteirões quadrangulares e planos do bairro onde o conceito é óbvio, e quase descrito no nome, o porco. Tudo é suíno, o que só por si intriga (tinha este restaurante na minha lista há meses a fio).
Tendo tido algumas dificuldades na reserva (continuo sem gostar muito do conceito de ter de dar os dados do cartão para reservar uma mesa) e na impossibilidade de reservar mesa de outra forma, tentei a minha sorte num dia de semana. E sorte tive. Consegui jantar na rua (o que eles chamam “esplanada”, mas de facto é no passeio da rua à frente do restaurante) e antes da leitura do menu chega o couvert. A refeição começou em bom: uns pickles de cenoura, em rodelas muito finas, uma manteiga de porco - única de sabor, de textura e de cremosidade - umas fatias de pão sourdough e de broa (fiquei-me pelo pão de trigo, já que estava acompanhada por um verdadeiro fã de broa - que não se considera, apesar de tudo, um broeiro). Os primeiros minutos foram de espanto e de delícia, tudo começava bem.
Veio de seguida o menu, que já tinha sido consultado na internet (sou incapaz de ir a um restaurante sem ver o menu antes e, aliás, acho que raras são as vezes em que a escolha não está feita antes de chegar ao local da refeição, há quem a isto chame doença, eu chamo entusiasmo). O produto que eu desejava requeria, segundo a carta, perguntar a quem nos atendia qual era o corte do dia. E assim fiz, aliás o restaurante em muito recai no diálogo e nas recomendações de quem nos está a servir. Acabei por não pedir o porco preto, o desejo de secretos não correspondia ao corte do dia, mas fui bem influenciada a beber um copo de vinho da casta Baga (que raramente está nas minhas escolhas) que correspondeu exatamente aquilo que apetecia numa noite de calor, um vinho tinto fresco e leve, sem ser ácido ou insípido. A escolha final recaiu pela partilha de uma bifana “porcalhona” e cabidela de miúdos, com batata frita a acompanhar. Antes dos pratos principais, também por recomendação do restaurante, trouxeram-nos dois croquetes e dois pastéis de massa tenra.
Em geral a comida estava boa, bem cozinhada e o produto era claramente de qualidade. Apesar disso, a refeição não arrebatou, tendo, aliás, ficado um pouco aquém das expectativas no tamanho das doses. Os únicos dois pratos que realmente surpreenderam foram os croquetes, de uma cremosidade e sabor super refinados, contrapostos com uma mostarda caseira que lhe dava uma harmonia perfeita e a bifana que, de facto, unia em perfeição todos os seus ingredientes e na qual o molho não se sobrepunha, nem muito menos incomodava.
No final com a conta uma dose (esta sim no tamanho certo) de realidade. O restaurante pode ser pequenito, estar baseado na relação com o cliente, e ter doses pequenas, mas a aposta na qualidade dos produtos e o cuidado com os comensais sai caro, especialmente em campo de Ourique. O restaurante saiu finalmente da lista dos “por experimentar” e o estômago saiu contente, a carteira é que não.