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no princípio era o prato

Um pequeno bloco de notas digitais, de avaliações de restaurantes, de viagens, de variadas recomendações e textos aleatórios.

no princípio era o prato

Um pequeno bloco de notas digitais, de avaliações de restaurantes, de viagens, de variadas recomendações e textos aleatórios.

uma capital com uma cor especial

Aproveitando um fim-de-semana um bocadinho mais comprido (com um feriado), decidi regressar a Sevilha. Acompanhada por um novato e com alguma inveja de ir com uma pessoa que vê a capital andaluza pela primeira vez, entrámos no carro depois de uma semana de trabalho, rumo ao sul do país vizinho.

De carro foram quase 900 km, ida e volta, a maior parte em estradas nacionais, passando pelo nosso muito belo Alentejo. Como não gostamos de fazer o mesmo trajeto duas vezes, fomos pelo baixo Alentejo e regressámos pela zona de Badajoz e Elvas, que valeu a pena a paragem e deixou vontade de regressar em passeio semelhante. Episódica foi a entrada em território espanhol, de madrugada quase, que nos recebeu com uma galp (deixando-me a pensar, já que os portugueses costumam ir a Espanha abastecer pelo menos que a empresa portuguesa lucre com isso) e com uma (anormal) falta de seleção radiofónica, que nos obrigou a escolher entre uma entrevista sobre a saúde mental no espaço laboral ou a rádio fiesta. Acabámos por estar 2h a ouvir uma espécie de música festiva, curiosamente muito parecida (ou era sempre a mesma faixa?).

Chegados a Sevilha e depois de uma noite bem descansada e um pequeno-almoço reforçado num hotel nos subúrbios de Sevilha, começamos oficialmente o nosso passeio. 

O conceito da viagem era simples: andar, andar e andar, e foi isso que fizemos. Num total de quase 50km de caminhada, que incluiu o passeio do hotel nos subúrbios ao centro da cidade, pudemos testemunhar o dia-a-dia de uma cidade com alma (há quem diga que tem uma cor especial). Não só exclusivamente dentro do centro, mas especialmente na zona histórica, encontrávamos constantemente grupos de pessoas, de amigos, de famílias, excursões e (especialmente) despedidas de solteira (parece que é moda). O ambiente era de uma festa a céu aberto, especialmente naquela altura do ano. 

Digo naquela altura do ano por causa da “feria” (até este momento duvido se este parágrafo não deveria ser um post autónomo). Se não sabem o que é a feria ou, tal como eu há umas semanas, acham que é uma coisa um pouco datada e até demasiado espalhafatosa, não sabem o que estão a perder. Este “evento” é basicamente a festa da cidade (tal como em Portugal qualquer vila tem a respetiva festa), mas em Sevilha uma festa de cidade torna-se num verdadeiro espectáculo. Tudo é espectacular: a deslocação (que dita a tradição deve ser feita de charrete com os cavalos “vestidos” a rigor), as vestimentas (uma mulher vestida de sevilhana, e arranjada como dios manda, é do outro mundo), as casetas (se fossemos injustos diriamos que eram uma espécie de barracas, onde as pessoas dançam, cantam, bebem e comem), e até a entrada, um portão enorme feito para a ocasião. Um parque de estacionamento torna-se num mundo à parte. Fomos 1h a Los Remedios para ter um cheirinho do que seria esta tradição, obrigados por todos aqueles que já por lá tinham passado. Chegado ao recinto apercebemo-nos que apesar de nós acharmos que era um plano turístico, certamente para os sevilhanos não o é, já que a extensa maioria das casetas são privadas e com entrada sujeita a convite - o que envolve tudo de um certo secretismo. Procurámos uma lista das casetas públicas - que inclui a do Ayuntamiento (Câmara Municipal), dos partidos políticos e sindicatos - entrámos numa e fizemos tudo aquilo a que tínhamos direito, incluindo dançar (pessimamente) e beber um jarro de rebujito (uma espécie de vinho branco com sprite, mas que resulta e que poderá ter ajudado a desinibir no bailado).

Para além da festa e da feria, Sevilha por si só vale, vale sempre. As ruas estreitas, os bares e restaurantes históricos (virá texto única e exclusivamente sobre a parte gastronómica, logicamente), a praça de Espanha, os palacetes, os casarões e as igrejas, sem nunca esquecer o (até há pouco tempo) ponto mais alto da cidade, a Giralda. Nesta cidade há uma mistura constante, no geral e nos pormenores, entre um catolicismo de raiz e uns rasgos de influência muçulmana, que é visível nos jardins das casas, na cerâmica e nos azulejos e, especialmente, quando subimos a um terraço e vemos a cidade desde cima (recomendação para o efeito: Hotel de Inglaterra). Em termos de visita, de uma forma minimalista, recomendo quatro atrações: a Catedral (que inclui subir a Giralda), a  Palácio Las Dueñas,(propriedade dos Duques de Alba), os Reais Alcázares de Sevilha (seja-se ou não fã de Guerra dos Tronos) e a Casa de Pilatos (maior palácio privado em Sevilha). Estes quatro são de cortar a respiração (também induzida pela quantidade de turistas num mesmo espaço) e valem mesmo muito a pena. Mas, para além dos guias turísticos e de quaisquer recomendações, o melhor da cidade é andar e perder-se, especialmente se for em Triana, entrar nos mercados, parar nos jardins e caminhar sem rumo. 

Saímos de Sevilha cansados, mas rejuvenescidos, felizes e já com saudades desta cidade. Tentei resistir à tentação, mas não consegui, tenho de terminar o texto com uma frase da música dos Los del Río, por muito mais piroso que me pareça.

Sevilla enamora al mundo, Por su manera de ser, Por su calor, por sus ferias, Sevilla tuvo que ser.

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